terça-feira, 22 de março de 2016

UMA MANEIRA DE LIDAR COM A DOR E A SAUDADE

Tive o privilégio de morar no estado de Goiás, por mais de 10 anos. Já me considero um pouco goiano também! Não dá pra esquecer um povo tão bão!
Conheci cidades bonitas, conheci gentte da roça que sustentava a família com o lucro do leite que tirava das vacas, do que se plantava... gente que fazia rapadura no tacho pra vender. Conheci a beleza da culinária, oh povo da mão boa pra cozinhar. Ah, não encontrei uma pamonha mais sabora em outro lugar! Goiás é um estado bonito mesmo! Mas, nada substitui as pessoas que conheci, gente das mais extraordinárias, gente boa mesmo!
Convivi com mestres/servos do Senhor Jesus. Pessoas simples que me marcaram com sua vidas, verdades que não se encontram em livros. Tais pessoas mesmo diante das lágrimas, enriquecem nossos corações de vida e sabedoria. Registro abaixo uma reflexão de uma nobre irmã (Aélia), que tive a honra de conviver próximo durante  4 anos em Anápolis. 
A maneira como fala da saudade e da dor do filho que não o tem mais é simplesmente uma das mais lindas lições a se aprender, ao lidar com a dor e a saudade:

"Sempre amei os ipês. Nasci no cerrado goiano, portanto desde criança conheço esses gigantes coloridos.
Todo setembro espero ansiosa por eles e considero uma pena tanta flor em tão pouco tempo. Se bobear, perde-se o espetáculo.
De todas as minhas primaveras vividas, certamente a de 1981 foi a mais colorida. Tornei-me mãe no dia 26 de setembro. Ainda se percebiam os resquícios dos ipês colorindo a estação iniciante e as primeiras chuvas traziam as delícias do clima mais ameno e o cheiro da terra molhada invadia o ar. Era primavera. E eu mãe de primeira viagem de um bebê de 2,5kg e 47 cm a quem demos o nome de Eliézer - "Deus é meu ajudador".
Vivi essa plenitude 33 anos, 2 meses e 26 dias.

Que ideia genial de Deus conceder esse dom às mulheres!
Mas hoje estou aqui novamente contemplando os ipês, porém pasma diante da efemeridade da vida. Somos como os ipês.Em uma semana, tiro uma foto colorida, imponente; na semana seguinte, paro estarrecida diante do mesmo ipê à procura de uma florzinha sequer. Não há nenhuma. O vento levou todas. Agora só daqui a um ano quando uma nova primavera chegará.
E nesse ir e vir do ciclo da vida, chega um dia que o céu fica turvo, o sol não brilha, a noite é longa, os dias são tristes e a figura do ipê sem flor é a mais adequada para ilustrar a minha alma outrora exuberante e festiva. De hoje em diante, meu filho não colherá mais primaveras, mas eu plantarei ipês em todos os setembros da minha vida. O desse ano é amarelo. Simbolicamente para mim, será uma forma de agradecer a Deus parte da herança que Ele me deu por um tempo.
Agora não tem abraço apertado, nem telefonemas, nem parabéns, nem bolo e nem churrasco.
Agora tem saudades, lindas lembranças, garganta apertada e uma água quente que insiste em brotar nos meus olhos o tempo todo...


Acho que o nome disso é dor."





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